A proposta da pesquisa em trajeto
consisti em cartografar um “Diário de Bordo”. Nesses quatro anos de universidade
criei para mim um locus que guarda o
conhecimento artístico que vivenciei no curso. Para tanto, conciliei minha vida à descoberta de saberes, investindo na minha formação teatral, como
artista-professor-pesquisador. Modifiquei planos e sobrevoei por disciplinas
que ilustravam o modo de fazer, de ensinar e de pesquisar Teatro. Criei o blog Corpo Palavra (https://palavra-corpo.blogspot.com) e experimentei errar, conhecer e aprender arefletir sobre modos e formas. Transcrevi em páginas virtuais, vivências e pesquisas
desenvolvidas dentro e fora da universidade. Rompi o elo da aprendizagem
restrita, subordinada ao conhecimento repassado pelo professor e propus-me expandi
para o blog tudo o que foi suscitado dentro da sala de aula com um olhar
poético não convencional:
Imagem 1: Blog Corpo
Palavra. (https://palavra-corpo.blogspot.com)
Com o blog, a pesquisa se deu em
torno dessa vivência acadêmica registrada em Diário de Bordo. Uma plataforma
virtual da minha trajetória como artista-professor-pesquisador. Uma
investigação da escrita; uma cartografia digital artística disponibilizada na
web.
A pesquisa tende pôr em análises
críticas, as postagens e seus desdobramentos na perspectiva de novas criações,
mostrando a comunicação teatral em rede. O Blog Virtual é um dispositivo
passível de suportar o desenho do plano de consistência onde está organizada
uma trajetória de formação de um artista-professor-pesquisador, no caso, a
minha própria formação.
Ao elaborar o projeto de pesquisa
obtive de Wlad, proposições para a concepção da pesquisa. Eu tinha a ideia de
falar a partir do blog, mas apenas como auxiliador na memorização dos
trabalhos; do que realizei dentro da universidade. A
professora Wlad propôs mais radicalidade: a revelação plena do blog como
sujeito da pesquisa. Essa consideração deu maior consistência à proposta: cartografar,
diretamente, os relatos e reflexões postadas no Diário de Bordo, já existente. Essas
narrativas com território existencial da pesquisa.
O blog Corpo Palavra, criado no início do curso, é um memorial artístico,
portfólio de trabalhos vivenciados dentro e fora da universidade, registro de
um ciclo acadêmico, um verdadeiro caderno
de professor – para o futuro - com ferramentas que ajudam a construir um
processo de trabalho artístico-pedagógico para aqueles que viveram o ser professor-criador.
Defendo a ideia do blog como ponto
de apoio dos pensamentos que se multiplicaram durante os quatro anos de curso.
O blog é o meu campo de imanência, nele dei organicidade às ideias que iam
surgindo e ainda surgem; materializei o que estava em pensamento e busquei
criar no corpo, em palavras, em imagens, em linhas que dão norte a pesquisa de
conhecimento. Apresentei-me em processo, em outras margens além da sala de
aula.
Sustento a pesquisa partindo dos
pensamentos de Gilles Deleuze e Félix Guattari sobre o conceito de Rizoma.
Deleuze e Guattari, em Mil Platôs 1 (DELEUZE;
GUATTARI,1995), explanam sobre o princípio rizomático que multiplica e gera um
encadeamento a outros pontos. Um rizoma que nasce e se conecta com outros
rizomas:
Falamos
exclusivamente disto: multiplicidade, linhas, estratos e segmentaridades,
linhas de fuga e intensidades, agenciamentos maquínicos e seus diferentes
tipos, os corpos sem órgãos e sua construção, sua seleção, o plano de
consistência, as unidades de medida em cada caso. Os estratômetros, os deleômetros,
as unidades CsO de densidade, as unidades CsO de convergência não formam
somente uma quantificação da escrita, mas
definem como sendo sempre a medida de outra coisa. Escrever nada tem a
ver com significar, mas agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda
por vir (p. 11).
O blog é uma extensão de mim, um
plano de consistência para as minhas ideias, ações, pensamentos, escrita; um
ponto de fuga que discorre das sensações que gritam no interior. É um espaço
que muda as coisas de lugar, coloca as ideias e a pratica em organização.
Comunica a forma de organicidade, mostra o conteúdo da essência, pulsa um
devir.
Decidi publicar o blog Corpo Palavra como um Diário de Bordo e
relatar a trajetória de um formando em Teatro. Nesse diário, o processo de
formação parte de um conhecimento profissional adquirido na universidade para o
compartilhamento em rede com outros profissionais da arte que utilizam a
blogosfera para comunicar, produzir e gerar um encadeamento de informações do
meio artístico e toma-lo como produção de conhecimento. O compartilhamento se dá
através de “posts” trazendo conteúdos que atravessam o teatro por imagem, vídeo
e texto, buscando o sentir ao estar em processo de produção de conhecimento e
arte.
Foram quatro anos de curso e tudo o
que busquei conhecer partiu do ensino acadêmico, dos diálogos com outros
profissionais e das leituras que demarcavam o percurso do pensamento reflexivo.
Vivi a universidade por meio de atuações, experimentações e transições que me
fizeram descobrir todos os meus atravessamentos-pensamentos. Desloquei-me de um
lugar ao outro, saindo do meu contexto habitual e me adaptando a novos lugares através
do teatro. Nesse percurso cartografei sentidos; construir linhas de encenação,
de composição, linhas de fuga; observei, agenciei, vivenciei e criei a minha
própria formação acadêmica.
Quando criei o Corpo Palavra, joguei na rede um pouco do meu conhecimento, dos
meus processos criativos, da minha pesquisa e trabalhos artísticos que ia
produzindo nesses quatro anos de curso. Tive disciplinas que disparavam em mim
um meio para transpor pensamentos e produzir através de palavras o que estava
vivenciando. O blog carrega todos os meus trabalhos, tanto os realizados na
sala de aula quanto os que foram produzidos para além dos muros da
universidade. Tem o antes, o durante e uma proposta de vislumbramento para o
que suceder pós-formado.
No blog procuro recriar minha história
além da linguagem textual, busco transcrever em postagens poéticas uma
imagem-sonora, uma escrita em diário de bordo. Cartografar meus resultados e me
conectar em outras extensões. Sigo o cotidiano; palavras sublinhadas em outras
redes. O blog que registra esse diário de bordo carrega um memorial de um
artista em construção. Um meio de não seperder, de se perder achando fatos, processos e composições, linhas de um
pensamento educacional, artístico, acadêmico e profissional.
Nas postagens, a forma de
ensinamento ministrada pelos professores disparam novos olhares para o fazer
teatral. Educar, adquirir conhecimento, pôr em prática ações. Se informar e
aprender os trânsitos do ensinamento. Aprender a arte e se profissionalizar com
a prática.
O blog parte, do ponto do meu
ingresso na Universidade Federal do Pará. Ingressei em 2011 no curso Técnico em
Ator e em 2012 no curso de Licenciatura em Teatro. Nesse ciclo duplo de
formação me conectei com outras áreas do conhecimento artístico, filosófico e
cientifico, participei como estudante de teatro de processos criativos e
construí pensamentos sobre uma formação teatral dentro da universidade. Cartografei
em postagens no blog, em forma de texto literário, poético, todo o meu ensino-aprendizagem.
A pesquisa em andamento – processo
não se encerra no TCC - mostra um meio de se chegar a comunicar de forma
poético-reflexiva o processo de criação de um formando em Teatro. Suporte que
carrega informações de um caminho em construção; é nele, no blog, que o
artista-professor-pesquisador deixará rastro para processos futuros, onde a
memória recriará sentidos para o que já foi iniciado.
Para
fechar, temporariamente essa introdução, dois pensamentos poéticos de artistas:
de Tadashi Endo: “mover-se significa ir em frente, deixar o primeiro (ponto), e
cada passo nos leva em direção ao futuro”; e de Ana Cristina Colla: “caminhante,
não há caminhos. Só rastros”.
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