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segunda-feira, 11 de abril de 2016

O Blog

A proposta da pesquisa em trajeto consisti em cartografar um “Diário de Bordo”. Nesses quatro anos de universidade criei para mim um locus que guarda o conhecimento artístico que vivenciei no curso. Para tanto, conciliei minha vida à descoberta de saberes, investindo na minha formação teatral, como artista-professor-pesquisador. Modifiquei planos e sobrevoei por disciplinas que ilustravam o modo de fazer, de ensinar e de pesquisar Teatro. Criei o blog Corpo Palavra (https://palavra-corpo.blogspot.com)  e experimentei errar, conhecer e aprender arefletir sobre modos e formas. Transcrevi em páginas virtuais, vivências e pesquisas desenvolvidas dentro e fora da universidade. Rompi o elo da aprendizagem restrita, subordinada ao conhecimento repassado pelo professor e propus-me expandi para o blog tudo o que foi suscitado dentro da sala de aula com um olhar poético não convencional:

Imagem 1: Blog Corpo Palavra. (https://palavra-corpo.blogspot.com)

Com o blog, a pesquisa se deu em torno dessa vivência acadêmica registrada em Diário de Bordo. Uma plataforma virtual da minha trajetória como artista-professor-pesquisador. Uma investigação da escrita; uma cartografia digital artística disponibilizada na web.

A pesquisa tende pôr em análises críticas, as postagens e seus desdobramentos na perspectiva de novas criações, mostrando a comunicação teatral em rede. O Blog Virtual é um dispositivo passível de suportar o desenho do plano de consistência onde está organizada uma trajetória de formação de um artista-professor-pesquisador, no caso, a minha própria formação.

Ao elaborar o projeto de pesquisa obtive de Wlad, proposições para a concepção da pesquisa. Eu tinha a ideia de falar a partir do blog, mas apenas como auxiliador na memorização dos trabalhos; do que realizei dentro da universidade. A professora Wlad propôs mais radicalidade: a revelação plena do blog como sujeito da pesquisa. Essa consideração deu maior consistência à proposta: cartografar, diretamente, os relatos e reflexões postadas no Diário de Bordo, já existente. Essas narrativas com território existencial da pesquisa.

O blog Corpo Palavra, criado no início do curso, é um memorial artístico, portfólio de trabalhos vivenciados dentro e fora da universidade, registro de um ciclo acadêmico, um verdadeiro caderno de professor – para o futuro - com ferramentas que ajudam a construir um processo de trabalho artístico-pedagógico para aqueles que viveram o ser professor-criador.

Defendo a ideia do blog como ponto de apoio dos pensamentos que se multiplicaram durante os quatro anos de curso. O blog é o meu campo de imanência, nele dei organicidade às ideias que iam surgindo e ainda surgem; materializei o que estava em pensamento e busquei criar no corpo, em palavras, em imagens, em linhas que dão norte a pesquisa de conhecimento. Apresentei-me em processo, em outras margens além da sala de aula.

Sustento a pesquisa partindo dos pensamentos de Gilles Deleuze e Félix Guattari sobre o conceito de Rizoma. Deleuze e Guattari, em Mil Platôs 1 (DELEUZE; GUATTARI,1995), explanam sobre o princípio rizomático que multiplica e gera um encadeamento a outros pontos. Um rizoma que nasce e se conecta com outros rizomas:

Falamos exclusivamente disto: multiplicidade, linhas, estratos e segmentaridades, linhas de fuga e intensidades, agenciamentos maquínicos e seus diferentes tipos, os corpos sem órgãos e sua construção, sua seleção, o plano de consistência, as unidades de medida em cada caso. Os estratômetros, os deleômetros, as unidades CsO de densidade, as unidades CsO de convergência não formam somente uma quantificação da escrita, mas  definem como sendo sempre a medida de outra coisa. Escrever nada tem a ver com significar, mas agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir (p. 11).

O blog é uma extensão de mim, um plano de consistência para as minhas ideias, ações, pensamentos, escrita; um ponto de fuga que discorre das sensações que gritam no interior. É um espaço que muda as coisas de lugar, coloca as ideias e a pratica em organização. Comunica a forma de organicidade, mostra o conteúdo da essência, pulsa um devir.

Decidi publicar o blog Corpo Palavra como um Diário de Bordo e relatar a trajetória de um formando em Teatro. Nesse diário, o processo de formação parte de um conhecimento profissional adquirido na universidade para o compartilhamento em rede com outros profissionais da arte que utilizam a blogosfera para comunicar, produzir e gerar um encadeamento de informações do meio artístico e toma-lo como produção de conhecimento. O compartilhamento se dá através de “posts” trazendo conteúdos que atravessam o teatro por imagem, vídeo e texto, buscando o sentir ao estar em processo de produção de conhecimento e arte.

Foram quatro anos de curso e tudo o que busquei conhecer partiu do ensino acadêmico, dos diálogos com outros profissionais e das leituras que demarcavam o percurso do pensamento reflexivo. Vivi a universidade por meio de atuações, experimentações e transições que me fizeram descobrir todos os meus atravessamentos-pensamentos. Desloquei-me de um lugar ao outro, saindo do meu contexto habitual e me adaptando a novos lugares através do teatro. Nesse percurso cartografei sentidos; construir linhas de encenação, de composição, linhas de fuga; observei, agenciei, vivenciei e criei a minha própria formação acadêmica.

Quando criei o Corpo Palavra, joguei na rede um pouco do meu conhecimento, dos meus processos criativos, da minha pesquisa e trabalhos artísticos que ia produzindo nesses quatro anos de curso. Tive disciplinas que disparavam em mim um meio para transpor pensamentos e produzir através de palavras o que estava vivenciando. O blog carrega todos os meus trabalhos, tanto os realizados na sala de aula quanto os que foram produzidos para além dos muros da universidade. Tem o antes, o durante e uma proposta de vislumbramento para o que suceder pós-formado.

No blog procuro recriar minha história além da linguagem textual, busco transcrever em postagens poéticas uma imagem-sonora, uma escrita em diário de bordo. Cartografar meus resultados e me conectar em outras extensões. Sigo o cotidiano; palavras sublinhadas em outras redes. O blog que registra esse diário de bordo carrega um memorial de um artista em construção.  Um meio de não seperder, de se perder achando fatos, processos e composições, linhas de um pensamento educacional, artístico, acadêmico e profissional.

Nas postagens, a forma de ensinamento ministrada pelos professores disparam novos olhares para o fazer teatral. Educar, adquirir conhecimento, pôr em prática ações. Se informar e aprender os trânsitos do ensinamento. Aprender a arte e se profissionalizar com a prática.

O blog parte, do ponto do meu ingresso na Universidade Federal do Pará. Ingressei em 2011 no curso Técnico em Ator e em 2012 no curso de Licenciatura em Teatro. Nesse ciclo duplo de formação me conectei com outras áreas do conhecimento artístico, filosófico e cientifico, participei como estudante de teatro de processos criativos e construí pensamentos sobre uma formação teatral dentro da universidade. Cartografei em postagens no blog, em forma de texto literário, poético, todo o meu ensino-aprendizagem.

A pesquisa em andamento – processo não se encerra no TCC - mostra um meio de se chegar a comunicar de forma poético-reflexiva o processo de criação de um formando em Teatro. Suporte que carrega informações de um caminho em construção; é nele, no blog, que o artista-professor-pesquisador deixará rastro para processos futuros, onde a memória recriará sentidos para o que já foi iniciado.

Para fechar, temporariamente essa introdução, dois pensamentos poéticos de artistas: de Tadashi Endo: “mover-se significa ir em frente, deixar o primeiro (ponto), e cada passo nos leva em direção ao futuro”; e de Ana Cristina Colla: “caminhante, não há caminhos. Só rastros”.



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