Páginas

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Palavra-corpo e o livro de artista - Capitulo I


Cada corpo individual torna-se parte integrante de um imenso hipercorpo híbrido e mundializado. Fazendo eco ao hipercórtex que expande hoje seus axônios pelas redes digitais do planeta, o hipercorpo da humanidade estende seus tecidos quiméricos entre as epidermes, entre as espécies, para além das fronteiras e dos oceanos, de uma margem a outra do rio da vida. (Pierre Lévy, 1996)
Na confluência entre os dois campos existe uma energia orgânica, física e eletrônica que fricciona a pesquisa, ampliando as informações e buscando compreender algo. O blog palavra-corpo é apenas uma plataforma dos registros, um diário de bordo virtual que ultrapassa a particularidade e a permanência da idéia em único plano. Os registros se propagam, ampliam, compreende um assunto carregando outra informação do mesmo. A escrita leva para outras margens o entendimento do trabalho, podendo se conectar com diversos tipos de conhecimento do que ela mostra. A identidade se modifica, cresce, colhe inúmeras interferências que o campo virtual expande e prover mudanças no caminho da identificação. O dialogo é universal, foge para outros planos além do lugar em que se apresenta.

Nessa interação é importante observar o movimento que a comunicação virtual rege entre as dimensões que propagam o pensamento humano, desbravando a cultura existente do mundo a partir da raiz de sua identidade, compartilhando sentidos e experiências de vida que causa estranhamento, semelhanças e identificações com o crescimento de informações interculturais. Ela lança a partir do espaço local a imagem que propaga por inúmeras redes o nosso próprio entendimento de visão de mundo, transformando a partir da web o comportamento que se mostra na humanidade. No palavra-corpo o objetivo é pôr em análises críticas, as postagens e seus desdobramentos na perspectiva de novas criações, mostrando a comunicação teatral, performática e artística em rede. O Blog é um dispositivo passível de suportar o desenho do plano de consistência onde está organizada uma trajetória de formação de um artista-professor-pesquisador, no caso, a minha própria formação.

É nesse campo hipermídiatico que trago para ilustrar essa leitura duas referencia que dialogam com o pensamento que estou inserindo na pesquisa, a primeira é a leitura da Lucia Leão no livro O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço (2005), através da imagem de um labirinto que explica a multidimensionalidade desse espaço virtual: “um sem-número de textos, imagens e sons, em diversas formatações e dinâmicas, interligados em caminhos potenciais que dependem da interação com aquele que lê, ouve ou vê, para constituir ou completar o seu sentido. O labirinto existe como potência e também como experiência, naquele percurso desordenado e virtualmente infinito, escolhido e definido a cada bifurcação”. A segunda e a cena do labirinto no filme Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas de Tim Burton, onde o personagem Willian desmitifica o misterioso labirinto de teias de aranha para encontrar a saída:



(“Quanto mais difícil algo é, mais recompensador é no final”. Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, 2004. Direção: Tim Burton)

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Palavra-corpo: uma cartografia fragmentária, enigmas do livro de artista na construção dos espetáculos

Imersão cartográfica da escrita do blog sobre 3 espetáculos de teatro:

 Animalismo (a nova ordem mundial) - Imundas de Teatro




Reator Eterno - Estúdio Reator





I(MUNDO) UBU - Imundas de Teatro





quinta-feira, 28 de junho de 2018

Dramaturgias de Hilda Hislt são relançadas e ela será homenageada na 16ª Flip


(Hilda Hilst. Foto: Juvenal Pereira / Reprodução)

A obra teatral da poeta Hilda Hilst chega as livrarias em dois volumes lançados pela editora L&PM, que esse ano presenteia os leitores com os excelentes registros da maior dramaturga brasileira. Foram oito peças teatrais escritas entre 1967 e 1969 que marcaram um momento febril e de intensa produção artística de uma escritora em plena ditadura militar, que registrou em ânsias reais uma dramaturgia que toda cena teatral deveria interpretar. As peças de Hislt ultrapassam a leitura formal de um espetáculo, dirige enlouquecidamente uma transição pelo olhar do personagem que expressa o seu sentimento de escritora.

Com ensaio biobibliográfico da escritora Leusa Araújo, o primeiro volume já publicado, traz as peças: O verdugo, As aves da noite,A morte do patriarca e O visitante, que mostra um cenário poético teatral em meio a um conflito familiar entre mãe e filha que disfarçam uma personalidade entre diálogos de cena que evidenciam o posicionamentos da relação familiar. O segundo volume que sairá no segundo semestre, traz as peças: O auto da barca de Camiri, A empresa, O novo sistema e O rato no muro, cuja dramaturgia percorre por pensamentos suspendidos e vivenciados numa casa onde habitam dez mulheres, identificadas somente pelas iniciais de A a I que passam por uma não identificação das personagens e palavras ditas por mulheres que costuram a dramaturgia. 

Seguindo essa fluidez, o texto de Hislt começa a dar uma virada quando transita de uma escrita literária para escrita teatral que surge diante de uma situação de resistência artística no país. Suas peças tornam-se uma mistura do prazer libertário com a poesia pensante exaltada pela consciência das personagens. Destaca-se nos textos,o posicionamento em palavras que a escritora determina na hora de criar seus personagens sem estruturas psicológicas, analisando um desdobramento dos pensamentos que transitam entre o espaço/tempo para a construção da dramaturgia que segue o ritmo da cena vivenciada. Toda a poesia de Hilst é jorrada através de um grito perturbante que foram manifestados em momentos solitários de uma escritora que escancara a própria vida em textos cênicos. Ideias como a morte, Deus, e amor são descritos em meios aos devaneios que surgem diante da criação e do fazer ininterrupto da ação.

(Ilustração de Laura Lannes para a versão em graphic novel de ‘A obscena senhora D’ - Divulgação)

Há nas peças um afogamento em palavras que condiz com uma escrita real por de trás da panada, ela percorre por todo o espaço mantendo a energia que se desdobra em cenas grotescas e rudes aos pensamentos da dramaturga. Ela instigava, desafiava e determina por meio das palavras uma teatrologia observada no acontecimento desse tempo. Os diálogos mantinham a mesma hierarquia onde os personagens ultrapassavam as fronteiras do significado da peça, as cenas se davam em todos os lugares sustentadas pela presença de deus ou do diabo. 

Esse ano a escritora Hilda Hilst será homenageada na 16ª Festa Literária de Paraty (Flip), que acontece de 25 a 29 de julho apresentando a trajetória de uma mulher que não media as palavras. A Feira irá mostrar o olhar artístico de uma escritora contemporânea que registrava um sufocamento da realidade vivenciada no plano ficcional, conectadas aos acontecimentos de sua poética. 

As obras de Hilda Hilst procuram ultrapassar o sentido de nossas vidas, da realidade interpretada por seres que se desgastam em cada lugar. É uma mistura de sensações da escritora, das personagens e de toda dramaturgia que observa o leitor em sua própria identificação. Hislt, sabia contar as palavras sem as máscaras que as encobre, desnuda as letras e constrói uma imaginação que triangula entre escritora, obra e leitor; dilacerando o corpo diante de uma encenação que o teatro deve buscar em suas palavras.