É
um olhar pro lado, do alto da janela, onde as vidas passam sem permanecer. É um
espaço de transição e ao mesmo tempo de trajetórias vindas de outros lugares.
Aqui a terra sustenta presenças, idas e vindas. Silêncio cintilante das
mangueiras. Aqui enterro um pouco de mim. Guardo na lembrança o momento eterno
que passou sem deixar indícios de volta. A essa hora o espaço é vago com um
passar de memória calada. Passos deslizam no caminhar para o outro lado. Ida,
sempre em frente, nunca parado. O tempo leva o sol e o vento passa para nunca
mais voltar, somente no outro dia tudo voltará e esse ar seguirá entrando nos
meus pulmões para a energia da terra me capturar e compor uma pequena parte
dessa imaginação verde encarnada em pedra que me soterrará por entre o mato e a
calçada em ritmos simultâneos de vozes e delírios quentes que arde sem cessar. Tá tudo calado, somente os pássaros cantam; o
transito se manifesta e o dia corre como todos os giros do mundo. Praça da
Republica, lugar que carrega Belém bem mais que muitos lugares. Aqui o chão
fixa o movimento do cotidiano, o verde se mantém presente e compõe a paisagem
com o brilho atingido pelo sol do lado do norte. Me furo na capital, num lugar
soterrado de gente, de esperanças, de sonhos, de um lugar central aberto que te
devora.
Alguns
passam, registram momentos e silenciam na memória o tempo de agora. O fluxo da
cidade corre, recorre, busca entender fatos correntes desse lugar jogado no centro.
Aqui o território luta com o tempo que desconfigura a história de monumentos
singelos. Roubando o olhar, se inundando na sujeira da atmosfera. Tudo muda com
as sombras das nuvens, com o funcionamento de vida que faz tudo funcionar. Cada
grade grita a liberdade, cada estrutura completa a obra que desenha a praça;
ela se sustenta no pó que lhe dá outra forma. Aqui temos um grande chão extenso
de pensamentos artístico aberto ao mundo por poucas palavras. O som do ambiente
é frenético e o grito para no peito sem ter por onde sair. Tudo é sufoco, ausência
de imaginação. De um ponto ao outro temos o levantamento da obra prima escolhida
pelo mundo da terra que não pertence a todos que a habitam, é um lugar no céu de demônios
que tocam em quatro atos frenéticos o apocalipse em sinfonias guaranianas, onde
os índios são engolidos pelo escurecer da floresta desenhada no do teto. Do outro lado há o silêncio barulhento das
ratazanas que se manifestam com o ópio vomitado misturado com a porra
lagrimejada de dias e noites, são ejaculações sôfregas expulsa no centro que
emana todo o espaço sacudindo os mortos que ouvem o desespero contemporâneo de
suas raízes. Há uma linha de chão que divide os dois e no meio dela temos
Marianne caminhando em direção à liberdade, saindo do arcaico e visualizando o
horizonte entre duas árvores petrificadas que a oprimem. Liberdades são brados
constante desse silenciar de tempo. Aqui tudo se faz, é um lugar aberto onde
percorre dores, amores e o ser solto pela terra de pensamentos sujos.
Aqui
os perigos rondam a cena atual, são interpretados por indivíduos deslocados de
algum ponto de Santa Maria do Grão. Medo, sustos, vontades estremas que colocam
os sentimentos pra fora da pele. São jorradas de animais que te devoram no
desperceber soturno da geografia do espaço calado por choros presos aos galhos
das mangueiras. Aqui a rua é um lugar aberto dentro de uma plataforma ausente
da tranquilidade. As partes são despedaçadas, os sujeitos se aconchegam nos
cantos de limos e lama preta. Aqui é preciso deixar a noite passar como o tempo
passa acalmando nossos sentimentos no coração. O respirar é solto e o olhar é a única
capacidade de vivencia desse absurdo. Olhar ao redor, sem se ausentar de si. Sem
deixar de perceber um pequeno ponto aberto na cidade que se desloca da região,
do mundo, do universo. É um bom lugar pra se pensar. Dentro da praça as
histórias seguem sem fim, apenas com começos próximos com indícios de que o
amanhã será eterno. É preciso desemundecer a liberdade em gritos constantes da
terra. Aqui a floresta carrega apenas uma praça e no centro disso tudo o tempo
passa. Atravessamos os labirintos, silenciamos esse pensamento. Aqui a história
continua rodando com o movimento do mundo.
O olhar da janela do ICA surtindo efeito em palavras para o registro memorável de um lugar do alto. Aqui observo o silencio passageiro da Praça da República. Agora os passos são outros. Vamos!
Nossa perfeito!!!!!
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