O corpo é ausente, figura imaginativa e física. Energia que se move perante o espaço. Dilatação de vontades. União do pensar, sentir e querer. Sentimentos que ecoam no mundo externo. É dançar, atuar; é presença. Autoconhecimento. É a linha embolada na palma da mão. Corpo é arte, é vida. É tudo o que podemos a partir do que sentimos. É mental e físico. São inúmeras possibilidades que podemos descobrir.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
sábado, 11 de outubro de 2014
Barrela – uma leitura varisteira de Plinio Marcos
Crítica teatral do espetáculo Barrela dirigida por Maycon Douglas, Grupo Os Varisteiros de Teatro
“Que
puta zona é essa?! Já não se pode dormir aqui não?!” Disse Bereco ao ser acordado
pelo bando que zoava com Portuga. Barrela traz toda violência ocorrida dentro
de uma cela de penitenciaria. Mostrando a realidade existente nos sistemas
penitenciários do Brasil. O horror, a dor, a desumanidade, revolta e pesadelo
narram uma noite entre cinco atores presidiários que mostram a dramaturgia de
Plinio Marcos com um corpo expressivo no contexto marginalizado. O espaço com
panadas pretas e uma luz baixa, coloca o expectador a sentar no chão como se
fosse um dos detentos daquele buraco fudido de merda. Em cena, um guarda rodeia
os cincos detentos balançando um molho de chave e delimitando a relação artista-espectador.
Somente um espectador rebelde se desvia para entrar em cena com Bereco, Fumaça,
Portuga, Tirica e o louco.
A
peça que foi censurada em 1958, ganha montagem pelo grupo Os Varisteiros que encerraram a segunda temporada com maior
destaque na mídia local. Barrela coloca o publico como testemunha da violência
penitenciaria. Cenas de estrupo com um garoto que passa apenas uma noite dentro
da cela e assassinato são apresentadas com desespero e agonia, onde o
espectador se junta ao bando de presos num espaço enfestado de suor, respirando
e sentido a quentura daquele ambiente. Quase como uma tortura, o olhar sensível
é pouco notado na peça. Mas pode ser visto na fraqueza de Bereco, que por
pressão dos outros da cela, quebra a regra do comando puxando um fumo e deixando
de evitar o estupro do garoto.
A
peça dirigida por Maycon Douglas tem seus autos e baixos, e a linha que narra
as cenas, vai dando volume ao espetáculo a cada ação. Quando somos colocados a
imaginar o que vai acontecer, a tensão se diminui deixando a expectativa pra
depois. Assistimos esperando algo incrível aparecer, esperando o momento corta
o pensamento e irmos de encontro com a peça, tal qual pensamento de Plínio:
Escrevi em forma de
diálogo, em forma de espetáculo de teatro, que era o que eu mais conhecia, mas
não me preocupei com os erros de português, nem com as palavras. Imaginei o que
se passara no xadrez antes, durante e depois de o garoto entrar, coisas que eu
conhecia bem de tanto escutar histórias na boca da malandragem. E dei o nome de
Barrela, que é a borra que sobra do sabão de cinzas e que, na época, era a
gíria que se usava para curra. (ver site oficial com obra de Plínio Marcos http://www.pliniomarcos.com/dados/barrela.htm)
Estamos
à mercê da violência, cumplices das mortes estampadas nas carpas de jornais, integrados
a um contexto de informação digital impetuoso. Mas o que leva o publico a se
impressionar com a apresentação? A peça montada pelo grupo Os Varisteiros, dão
forma a linguagem estupida Pliniana. Atuada vigorosamente com sangue no olho e
mostrando situações violentas mais do que atuais.
Barrela
é a quarta montagem do grupo, e foi sentida na pele a exaustão do corpo. A construção
da peça foi realizada ao longo de oito meses. Ódio, porrada, mudança de estado
de corpo, foram dando tensão a montagem que pede trabalho e construção
coletiva. Proposta ousada em encarar a dramaturgia de Plinio Marcos, que busca
na literatura marginal um dialogo forte. Uma boa releitura da obra pelos varisteiros
que avançam no que o autor escreveu, sobre um corpo dilatado além das palavras,
como fala Roland Barthes:
Ora, tenho a
convicção de que uma teoria da leitura (dessa leitura que sempre foi a parente
pobre da criação literária) é absolutamente tributária de uma teoria da
escrita: ler é reencontrar – no nível do corpo, e não no da consciência – como aquilo foi escrito: é colocar-se na
produção, não no produto; pode-se encetar esse movimento de consciência, quer
de maneira bastante clássica, revivendo com prazer a poética da obra, quer de
maneira mais moderna, retirando de si toda espécie de censura e deixando ir o
texto em todos os seus transbordamentos semânticos e simbólicos. (BARTHES, 2004)
05/10/2014
Bernard
Freire
domingo, 20 de julho de 2014
Espetáculo EM CAIXAS
Em
Caixas, um lugar onde o meu eu estaria presente sem ser minha pessoa. Um
ambiente novo a partir do olhar da máscara me levava a encontrar o
desconhecido, um espaço novo onde o meu corpo falava para o público. Me
encontrei diante de um trabalho que me tiraria da zona de conforto e me
colocaria num lugar de trabalho da construção onde o que poderia vim era o que
ia estabelecer a minha própria dramaturgia. Não estava preso a nada, tinha
liberdade para criar e isso fez com que essa liberdade fosse o caminho difícil
de chegar ao resultado.
A
máscara descobria um novo ambiente, e por trás dela a vontade era de disfarçar
o que me prendia na realidade. Tinha o meu trabalho corporal junto à máscara
que me reinventava a cada passada de cena, me trazendo sentimentos que lutava
para não repetir o que ia descobrindo. Era um trabalho de busca da pesquisa
onde o meu corpo se transformava em outros corpos para não me sentir só. Trazia
da minha imaginação figuras para adaptar no processo de criação. Isso
contribuiu já que não tinha texto, e a linguagem estava na imagem da cena.
Relacionei essa construção com Antonin Artaud, onde ele critica em seu primeiro
manifesto do Teatro da Crueldade a sujeição do teatro ao texto: “Não
representaremos obras escritas mas em torno de temas, fatos ou obras comuns,
tentaremos uma encenação direta.” (ARTAUD, 1999:112)
Essa
construção provocou inquietação, pois o que eu apresentava no processo não
estava relacionado com o que a máscara pedia. O trabalho estava no corpo, e a
dificuldade de colocar uma máscara requer um novo olhar. Não se tinha texto,
mas se tinha desgaste físico, dúvidas, impaciência. Minha vontade era de
apresentar qualquer proposta, mas mesmo assim o “qualquer” exigia uma
explicação razoável. Procurei colocar o que aprendi durante o curso e fui
encontrando o caminho da construção de uma cena. Novamente a leitura de Artaud
e deixou claro essa vivencia: “Com isso, renunciaremos à superstição teatral do
texto e a ditadura do escritor. E assim encontraremos o velho espetáculo
popular traduzido e sentido diretamente pelo espírito, sem as deformações da
linguagem e os escolhos do discurso e das palavras. (ARTAUD, 1999:145)
Substituindo
o texto, passei a falar através do corpo a minha vivencia de dois anos no curso
técnico. Tirava das emoções e imaginava através do olhar da máscara uma
despedida. Quando o professor Marton Maués mandava colocar a máscara e
apresentar para turma, olhava a máscara e representava através do sentimento o
que a máscara pedia. Apesar da tranquilidade que sentia, ainda tinha angustia
que me fazia buscar onde eu poderia chegar. Passei a colocar isso na folha como
forma do que o olhar atrás da máscara dizia:
Ansiedade
em Encontrar-se
BUM! BUM! BUM!...
A
projeção do mundo se expandir dentro de mim, são bombas estourando. As
partículas da fumaça me empurram para um poço de máscaras. Os passos se
divertem com a coreografia do deslizar no espaço, olho com o som dos movimentos
do tempo, olho com o sentir do respirar. Sou guardado com medo. Tudo é vulto,
imediação uniforme, forma contínua ausente de princípio. Torço para chover e
rasgar a camada que me cobre. Corro.
amar a esquiva
naufragar
cercado por paraísos idílicos
socos ao
vento
humano
transvestidos de rabisco
parágrafos arranhados, sufocantes
complexo transgênico
AAhhhhhh!!!!!!!!!
metamorfose composta de estágios
lentos e distintos.
Uma
nesga de luz invade a fresta da caixa e se esparrama esquálida pelo corpo
retraído. O silencio sufoca a raiz interior. Abro.
Como o tempo ia passando e o resultado
tinha que aparecer, fixei a atenção somente ao olhar da máscara e não o
sentimento que tinha atrás dela. Com isso, o que estava me sufocando foi
escapando.
A casa do joão
Apresentação do exercício pratico baseado no texto da casa do joão. Ficou legalzinho. O profº Paulo Santana ainda fez uma participação com seu senso critico.
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