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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Entre rosas, vento e a deslocação da arte

Crítica teatral do espetáculo ''ROSA DOS VENTOS: Entre Miragens e Mirações'' da Trupe Perifeéricos.


A sombra dança na tela cujos movimentos desenham imagens. São corpos dilacerados por um foco de luz que se esbarra no lençol.  É a energia antes de entrar em cena, é um silencio de imagem. É a expressão que brinca com sons, é aquela ansiedade que só se acalma quando a luz apaga e o filme começa. É a caixa preta high tech, é a ''ROSA DOS VENTOS: Entre Miragens e Mirações''. Espetáculo montado pela Trupe Perifeéricos que convida o público a entrar numa fábula de magias e encantos. Se perdendo entre flores e poesias. Modificando a presença do ator entre realidade e mídia. Substituindo o palco pela tela, onde a cenografia apresenta o real-ficcional, um filme que está sendo gravado agora.
Dentro dessa caixa a Trupe se desconfigura em atuação, desobedece à comunicação presencial, muda o foco, te coloca em outros horizontes e te faz perder a vida de perto. Traz uma dramaturgia marcada pelo vídeo que logo surge em cena onde o teatro vivo fica suspenso e acaba sendo uma ilusão. A Rosa é esse deslocamento, não tem ponto fixo, é perdida no vento. É uma miragem que coloca o público num sonho, mistura o som com o olhar do caleidoscópio e brilha na explosão da informação, é “multiplicação de signos no aparecimento de formas e no retorno do artifício que se anuncia como tal”. (AMIARD-CH EVREL, 1990, p. 10)
O espetáculo começa sendo rodado numa projeção onde o corpo do Dermond se distorce, mostra um desentendimento de lugar, eleva o pensamento e se bagunça como o vento. Esse desentendimento de lugar mostra uma reconstrução teatral, coloca um vídeo no meio do palco e se sustenta em duas linhas que converge entre história e espaço. Coloca o público no ar, voa, traz de volta para cena e abre para mundo. Onde se dá o espetáculo? O que estou assistindo?
A presença de duas linguagens tira um e põem outro, balança no real-ficcional, substitui o texto teatral pela utilização de recursos audiovisuais como prática de dialogo. Mostra uma bagunça de lugar e deixa o sentido das assombrações no silêncio do palco, bem quieto e só se apresenta quando os atores estão em cena. Traz uma verdade bem disfarçada que a projeção esconde na retina. Ali ela se expande e coloca o teatro como reprodutor da fábula; mostra quem é soberano e faz tudo isso funcionar colocando em evidencia sua influencia no nascimento da sétima arte.

Bernard Freire 
22.03.2015 

Referência Bibliográfica
AMIARD-CH EVREL, Claudine.Frèresennemis ou fauxfrères? (théâtreetcinéma avant leparlant). In: Théâtreetcinémaannéesvingt. Tome 1. Paris: L’âgeD’Homme, 1990, p. 10.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Rosácea das forças

Eu canso quando o som ao redor se expandi dentro de mim. Mostro ausência de sensatez e me cubro de metáforas aglutinadas na minha imaginação. Busco um revés que modifica os estreitos caminhos oblíquos da rotina. Paro. Sufoco em pensamentos. Desabo em poeira soltas que invadem minha retina. São tempos rápidos e o entendimento dessa situação gera um caos nos poros que aniquilam o individuo. Tudo é confuso. Bagunça encaixotada. Energia esquálida derradeira. Movo, prendo-me a mim mesmo. Observo o andamento das paredes e caio no chão que sustenta o mundo. Tudo é frenético. Ausência de motivação. Grito escorado nas cordas vocais. Vazio cintilante que acompanha a rotina. Circulação interrompida pelo espaço. Olho de dentro e não enxergo nada. Tudo é fato. Choro trancado. Batimentos que soltam os brilhos invisíveis. Palma. Estabilidade caminhante. Encadeamento imóvel. Até aqui o silêncio busca um confronto com ele mesmo. Por de trás, visões encandecestes que te sustentam na linha cotidiana. Fluxo de sentimentos. Pedaços embrulhados num lencinho de papel. Ar codificado de gases. Movimentação psicodélica. Tudo é misturado, andamento retardado, choque de explosão do intestino.
27/08/2015 

*Rosácea das forças: "trata-se de um espaço direcional adaptável a todos os movimentos do homem, sejam eles físicos ou psicológicos, um simples movimento do braço ou uma paixão devoradora, um gesto da cabeça ou desejo profundo, tudo nos leva ao 'empurrar / puxar'". (O corpo poético - Jacques Lecoq, 2010)