Em
Caixas, um lugar onde o meu eu estaria presente sem ser minha pessoa. Um
ambiente novo a partir do olhar da máscara me levava a encontrar o
desconhecido, um espaço novo onde o meu corpo falava para o público. Me
encontrei diante de um trabalho que me tiraria da zona de conforto e me
colocaria num lugar de trabalho da construção onde o que poderia vim era o que
ia estabelecer a minha própria dramaturgia. Não estava preso a nada, tinha
liberdade para criar e isso fez com que essa liberdade fosse o caminho difícil
de chegar ao resultado.
A
máscara descobria um novo ambiente, e por trás dela a vontade era de disfarçar
o que me prendia na realidade. Tinha o meu trabalho corporal junto à máscara
que me reinventava a cada passada de cena, me trazendo sentimentos que lutava
para não repetir o que ia descobrindo. Era um trabalho de busca da pesquisa
onde o meu corpo se transformava em outros corpos para não me sentir só. Trazia
da minha imaginação figuras para adaptar no processo de criação. Isso
contribuiu já que não tinha texto, e a linguagem estava na imagem da cena.
Relacionei essa construção com Antonin Artaud, onde ele critica em seu primeiro
manifesto do Teatro da Crueldade a sujeição do teatro ao texto: “Não
representaremos obras escritas mas em torno de temas, fatos ou obras comuns,
tentaremos uma encenação direta.” (ARTAUD, 1999:112)
Essa
construção provocou inquietação, pois o que eu apresentava no processo não
estava relacionado com o que a máscara pedia. O trabalho estava no corpo, e a
dificuldade de colocar uma máscara requer um novo olhar. Não se tinha texto,
mas se tinha desgaste físico, dúvidas, impaciência. Minha vontade era de
apresentar qualquer proposta, mas mesmo assim o “qualquer” exigia uma
explicação razoável. Procurei colocar o que aprendi durante o curso e fui
encontrando o caminho da construção de uma cena. Novamente a leitura de Artaud
e deixou claro essa vivencia: “Com isso, renunciaremos à superstição teatral do
texto e a ditadura do escritor. E assim encontraremos o velho espetáculo
popular traduzido e sentido diretamente pelo espírito, sem as deformações da
linguagem e os escolhos do discurso e das palavras. (ARTAUD, 1999:145)
Substituindo
o texto, passei a falar através do corpo a minha vivencia de dois anos no curso
técnico. Tirava das emoções e imaginava através do olhar da máscara uma
despedida. Quando o professor Marton Maués mandava colocar a máscara e
apresentar para turma, olhava a máscara e representava através do sentimento o
que a máscara pedia. Apesar da tranquilidade que sentia, ainda tinha angustia
que me fazia buscar onde eu poderia chegar. Passei a colocar isso na folha como
forma do que o olhar atrás da máscara dizia:
Ansiedade
em Encontrar-se
BUM! BUM! BUM!...
A
projeção do mundo se expandir dentro de mim, são bombas estourando. As
partículas da fumaça me empurram para um poço de máscaras. Os passos se
divertem com a coreografia do deslizar no espaço, olho com o som dos movimentos
do tempo, olho com o sentir do respirar. Sou guardado com medo. Tudo é vulto,
imediação uniforme, forma contínua ausente de princípio. Torço para chover e
rasgar a camada que me cobre. Corro.
amar a esquiva
naufragar
cercado por paraísos idílicos
socos ao
vento
humano
transvestidos de rabisco
parágrafos arranhados, sufocantes
complexo transgênico
AAhhhhhh!!!!!!!!!
metamorfose composta de estágios
lentos e distintos.
Uma
nesga de luz invade a fresta da caixa e se esparrama esquálida pelo corpo
retraído. O silencio sufoca a raiz interior. Abro.
Como o tempo ia passando e o resultado
tinha que aparecer, fixei a atenção somente ao olhar da máscara e não o
sentimento que tinha atrás dela. Com isso, o que estava me sufocando foi
escapando.